Tegmark é um físico e cosmólogo, professor no MIT, e tem artigos publicados nestes dois domínios, bem como uma vida inteira a pensar cuidadosamente, rigorosamente, geralmente (e de forma divertida) sobre o "grande quadro" do que é possível, e do que não é, ao longo de grandes períodos de tempo e enormes distâncias cósmicas. Além disso, desempenhou um papel ativo e muito importante (como se pode ler no epílogo do livro) na criação efetiva de conversas e investigações sobre os impactos e a segurança da IA a longo prazo.
O livro começa com um prólogo, que não sabemos se se trata de ficção ou realidade. Ao fim de algumas páginas percebemos que, felizmente, é ficção, já que o enredo consiste numa superinteligência artificial criada por um pequeno grupo que a usa para tomar o controlo da sociedade humana.
O primeiro capítulo do livro de Tegmark chama-se "Bem-vindos ao debate mais importante do nosso tempo" e expõe porque é que a IA está subitamente no radar de todos, e porque será extremamente importante durante as próximas décadas, situando o presente como o ponto crucial num âmbito mais vasto da história humana e evolutiva na Terra.
O capítulo 2 leva a questão de "o que é inteligência" e abstrai-a da sua habitual ligação à mente humana. Como podemos defini-la de forma útil para cobrir tanto as formas biológicas como artificiais, e como é que estas se ligam a uma compreensão básica do mundo físico? Isto lança as bases para a questão do que acontece à medida que as inteligências artificiais se tornam cada vez mais poderosas.
O capítulo 3 aborda esta temática num futuro próximo: o que acontece à medida que mais e mais tarefas e trabalhos humanos podem ser feitos por IAs? Introduz a questão das armas atuais, dirigidas por homens, substituídas por armas com IA. Como será possível fazer face a um número cada vez maior de decisões tomadas pelas IAs que podem ter falhas ou ser tendenciosas? Há muitas mudanças importantes que estão a ocorrer, agora mesmo, e às quais a sociedade está, na sua maioria, a dormir ao volante.
O capítulo 4 entra no que é excitante - e aterrador - sobre a IA: como inteligência concebida, pode, em princípio "re-inventar-se" numa expressão cada vez melhor e num potencialmente num curto espaço de tempo. Isto levanta muitas questões importantes, e extremamente difíceis de endereçar, que ainda apenas alguns vislumbraram.
O capítulo 5 discute o que pode acontecer aos seres humanos como espécie após uma "explosão de inteligência". Aqui Tegmark está a chamar à nossa atenção, convocando-nos a pensarmos onde queremos estar, uma vez que podemos acabar em algum lugar, mais cedo do que pensamos, e algumas das possibilidades são bastante horríveis.
O capítulo 6 (O nosso legado cósmico: os próximos mil milhões de anos e mais além) mostra o talento único de Tegmark para enfrentar as grandes questões, olhando para os confrontos entre a AI e a perspetiva de vida inteligente no universo, e quão estupefactamente elevados podem ser os riscos para o sucesso nas próximas décadas. É uma perspetiva ao mesmo tempo sóbria e exaltante.
Capítulos 7 e 8 aprofundam algumas das questões mais interessantes sobre IA: o que significa para uma máquina ter "objetivos"? Quais são os nossos objetivos enquanto indivíduos e sociedade, e como podemos visá-los melhor a longo prazo? Pode uma máquina que concebemos ter consciência? Qual é o futuro a longo prazo da consciência? Existe o perigo de caminharmos para um universo "sem" consciência? Finalmente, um epílogo descreve a própria experiência de Tegmark como ator-chave num esforço para concentrar o pensamento e o foco na IA e nas suas implicações a longo prazo (que é o objetivo deste livro).
O livro é escrito num estilo muito animado e envolvente. As explicações são claras, e Tegmark desenvolve muito material a um nível que é compreensível para um público geral, mas suficientemente rigoroso para dar aos leitores uma compreensão real das questões relevantes, para que se possa realisticamente sobre o impacto futuro da IA. Há, no livro, muitas informações baseadas em notícias, embora, por vezes, seja escrito num estilo fresco e cativante. O livro tem um pensamento muito cuidado sobre as questões que levanta.
É possível que a inteligência artificial real e geral (AGI) esteja a 100 ou mais anos de distância, um problema para a próxima geração. Até lá iremos lidar com IA individuais, mas cada vez mais capazes de endereçar mais problemas do mundo real. Mas também é bem possível que isso aconteça daqui a 10, 15, 20, ou 30 anos, e, nesta perspetiva, a sociedade terá de tomar muito rapidamente decisões muito sábias e muito importantes (literalmente de importação cósmica). É, por isso, importante iniciar a discussão agora e não há melhor maneira.
Também há críticos deste livro, normalmente advogam que ele tem muito entusiasmo, mas não contém nenhum conteúdo substancial que se possa extrair. Não deixam de reconhecer que pode ter algum valor para aumentar a consciência geral sobre os perigos da IA, bem como fornecer uma perspetiva otimista para nosso futuro tecnológico. Também aceitam que pode ser uma boa introdução para aqueles que não estão totalmente familiarizados com esses tipos de ideias pois apresenta a temática de uma forma gentil e divertida.